Aprendemos sobre como viver ou a sobreviver?
Por Thiago Heine | Junho/2021
O ano de 2020 deixará na história do mundo uma ferida que até poderá ser cicatrizada, mas jamais será esquecida. Ou, pelo menos, não pelas gerações que a viveram. Fomos apresentados de uma maneira nada prazerosa à pandemia provocada pelo vírus SARS-CoV-2, que prova a doença chamada Covid-19. Que bela surpresa, hein? E, continuamos buscando a resposta: por que tudo isso?
Faço parte de uma parcela da população que mora sozinho e, se tem uma coisa que eu fiz neste período de reclusão foi refletir. Não apenas nos cuidados básicos, nos números crescentes, nas notícias, mas sim sobre algo mais profundo e íntimo. Lidei e lido com a minha solidão, com o meu tédio existencial, além de pensamentos e sentimentos que nunca cessam. Por meio de relatos e conversas tenho consciência de que não estou sozinho nesta situação.
A meu ver, estamos ouvindo e lendo bastante sobre "espero que o mundo aprenda algo depois de tudo isso passar", porém me indago qual será o nosso papel frente a isso? Afinal, desejar algo para o mundo é fazer algo para o mundo, certo? Se ficarmos na inércia, com certeza nada acontecerá.
Observei que no início desta nova dinâmica em nossas vidas houve um aumento significativo de ansiedade, angústia e desespero nas pessoas. E, nunca antes na história deste mundo, se falou tanto e de maneira eficaz sobre a saúde mental.
O isolamento para muitos foi visto e sentido como tedioso. Ah, o tédio! Tão falado, mas tão pouco vivido na sociedade atual. De repente, o ficar à toa deixou de ser uma opção. Ficar isolado significa lidar com a nossa própria existência, com os nossos próprios pensamentos, com a nossa própria companhia, com os nossos maiores medos, com as nossas mais profundas dores, em resumo com a nossa natureza.
Em uma de suas análises no início do século passado, Carl Gustav Jung dizia que o homem moderno busca abafar a sua natureza com a ciência e a tecnologia a qualquer preço, mas que as doenças (principalmente as psicossomáticas) ou outras situações agudas na vida nos fazem olhar e valorizar o que inevitavelmente nós temos e somos: corpo e mente.
Diversos cursos nos foram oferecidos, diversas dicas de como render o nosso dia nos quiseram apresentar, entretanto, será que já não temos bastante coisa a planejar e colocar em prática? Esse acúmulo de dicas e atividades pode ser ótimo, mas precisamos ter cuidado e noção de onde encaixar tudo isso.
Mantenha a sua rotina, faça os seus exercícios, coloque os filmes e as séries em dia, agende uma sessão de terapia com a praticidade dos atendimentos online, aproveite para conversar com aqueles amigos que há tempos a rotina prejudicou o contato. Contudo, além disso, medite, reflita, valorize as pequenas coisas, agradeça pelo nosso mais simples ir e vir, sobre nossos privilégios, sobre o humano antes do lucro e sobre possibilidades de ajuda que podemos oferecer ao nosso semelhante.
Quanto a esta questão eu pensava: deve haver alguma maneira de fazer algo simples e significativo a fim de ajudar o meu próximo. Então me coloquei à disposição com um simples recado no elevador do prédio: "caso precise conversar, fale comigo", e recebi algumas respostas muito bacanas. Incrível isso!
Portanto, não tenha medo de sua ansiedade, de suas angústias, de suas crises, elas também demonstram que você é humano e que sentimentos não agradáveis são importantes. Não fuja deles, não os deixe silenciar, mas os dê ouvido.
Passado mais de um ano desta pandemia (Junho/2021), posso dizer que aprendemos um pouco mais a sobreviver e sobre como viver. Apenas nos dispondo a ver as dores individuais e da sociedade é que sairemos diferentes deste cenário, com mais humildade, gentileza e empatia. Como dizia o poeta Vinicius de Moraes: "Não há mal pior do que a descrença". Nada mudará se nada fizermos e se nada fizermos nada aprenderemos.
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